A recente valorização do real frente ao dólar, observada nas últimas sessões, merece atenção, mas não deve iludir os investidores quanto à possibilidade de um aumento na taxa Selic ainda este ano. Esse ponto de vista foi ressaltado por Bruno Serra, gestor da Itaú Asset e ex-diretor de política monetária do Banco Central, durante um evento da Warren Investimentos em São Paulo nesta semana.
Serra destacou que a relação do câmbio com a economia brasileira se torna mais evidente em um prazo de três a quatro trimestres. Mesmo que ocorra uma valorização, isso não é suficiente para impedir um ajuste na Selic. Para que isso não ocorra, seria necessária uma queda substancial nas expectativas de inflação, além de uma rápida reversão do hiato econômico.
O tom adotado pelo Banco Central foi citado por Serra como um fator que, por ora, impede uma valorização maior do câmbio. Ele apontou a incerteza do mercado sobre os passos que a autoridade monetária tomaria para garantir a inflação dentro da meta, incluindo a possibilidade de um aumento da taxa de juros. "A verdade é que faríamos uma avaliação do câmbio mais favorável, possivelmente na faixa de R$ 5, se tivéssemos mais clareza quanto à atuação do BC", afirmou ele.
Luiz Parreiras, gestor de portfólio na Verde Asset Management, ecoou essa avaliação e destacou que a reafirmação de que uma alta na Selic está em consideração tem sido recebida com alívio pelos investidores, pois isso ajuda a resgatar a credibilidade da política monetária. Contudo, ele observou que a manutenção dessa credibilidade é um processo longo e que depende de ações consistentes da autoridade, não apenas de declarações pontuais.
Em relação à necessidade de um aumento na Selic, Parreiras argumentou que controlar as expectativas inflacionárias será uma tarefa complexa sem ajustes nas taxas ainda este ano. Ele citou previsões que apontam para uma inflação de 4,30% no próximo ano, o que é superior ao consenso de economistas consultados, que estimam uma inflação de 3,97% em 2025.
Outros especialistas presentes no evento, como André Raduan da Genoa Capital, também anteciparam a possibilidade de um aumento da Selic. Para Raduan, elevar a taxa não apenas ajudaria a ancorar as expectativas inflacionárias, mas também poderia criar um cenário propício para cortes mais significativos nos juros no futuro. Sua análise sugere uma expectativa otimista quanto ao impulso que um ambiente de juros controlados poderia dar ao crescimento econômico.
A capacidade do Banco Central de agir de forma independente e responsável é crucial para restabelecer a confiança dos investidores, e quaisquer medidas que fortaleçam a liberdade econômica, promovam um mercado saudável e respeitem os valores tradicionais devem ser vista como passos na direção correta. Essa abordagem é vital para garantir uma política econômica que favoreça o progresso e a estabilidade do país.
Fonte: Infomoney